Herança
A nossa casa é a herança dos avós que partilharam o saber, a noção do tempo na terra, a incondicionalidade no trato dos animais e a sabedoria na arte de conservar e transformar os alimentos. Quis o destino que a prole de 10 e 8 filhos, respectivamente, não seguisse as pegadas dos pais e, com uma geração de intervalo, é um neto que volta a erguer uma casa agrícola com produção de vinho, criação de cavalos, porcos e restante gadeza para que todos cumpram as sua funções no ecossistema.
Depois de 25 anos de exercício da advocacia, foi através do exercício em áreas ligadas ao direito, nomeadamente sobre os suplementos alimentares e alimentos funcionais, que a vontade de se instalar na terra e recriar uma casa agrícola e coudelaria inspirado nos avôs.
José dos Santos Caçador, lavrador e produtor de vinho, nasceu em 1901 e teria orgulho no neto por refundar a casa agrícola da família, com vinha, medronheiros selvagem que se cuidavam, pereiras, pereiros, figos, pêssegos, ameixas, havendo fruta todo o ano. Também havia cererais de verão e de inverno. O trigo era malhado, peneirado, até ser farinha para o pão caseiro que se fazia ao sábado; Depois era colocado numa arca, com lençois a abafa-lo. Devido à farinha e leveduras naturais, o pão durava uma semana sem ficar duro. Todos os dias, tínhamos que alimentar os bezzerros, as vacas leiteiras e ordenhá-las diariamente, bem como mulas e cavalos. As mulas era usadas para lavrar com a charrua e para puxar a carroça que era o veículo todo o terreno na altura. Fui muitas vezes, com o avô, a Coruche e nas aldeias circundantes, vender fruta. Ao final da tarde, íamos regar a horta. Ligar o motor do poço e depois ir canalizando as águas pelos canteiros definidos, abrindo e fechando para canalizar a a água. Todos os anos íamos ao feira do gado de salvaterra vender os bezerros gordos e combrar pequenos. Também comprávamos leitões para engordar, e mais tarde eram mortos e aproveitavamos tudo: carne, gordura (unto), enchidos de carne e de sangue. A matança do porco era também um pretexto de festa e todos ficavam com uma parte do bicho. Tudo isto nos foros da Salgueirinha.
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Homenagem idêntica é feita ao avô Domingos Caro, nascido na Amareleja, instalou-se em São Torcato em 1923, depois de casar com Estefânia Rocha, nascida na Herdade do Rio Frio e onde se conheceram. Homem calado, rico nos ditos e saberes, empresário e proprietário de uma mutaria dedicada aos transportes comerciais antes de chegar a camionagem a motor. Os animais, em particular os cavalos e mulas, não tinham segredos e comunicavam por sons inigualáveis. Teria gostado de conhecer a nosso futuro núcleo de Cavalos do Sorraia, descobertos nos anos 30 do século XX, na lezíria de Coruche, com características primitivas e ascendente dos Lusitanos, cuidados pelo neto. O sonho comanda a vida e é o meu recriar esta natureza de envolvimento entre o homem, os animais e a natureza. Faz parte deste sonho fundar o Núcleo de Cavalos do Sorraia com o ferro Karo, com o espírito do avô. Os touros não têm que existir só para touradas. Em terras de cultura tauromáquica, sei que gostaria que tivessem outro trato, tal como eu o via fazer, quando foi maioral da herdade de São Torcato, em que fazia festas aos bravos e mansos. Também fazíamos passeios a montar a Boneca, a última égua do avô.
A família Caro/Karo tem como antepassados proeminentes, Joseph Karo, rabino e filho de rabinos, autor da primeira compilação dos livros sagrados judeus e fundador da sinagoga com o seu nome, em Jerusalém, Agostinho Caro Quintiliano, homenageado na Vila da Amareleja com um busto e respectiva toponímia, por ter sido um médico que esteve sempre ao lado da população.
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